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Blogue da Roseli

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Foto do escritor: RoseliRoseli

‘Navegar é preciso, viver não é preciso’, disse no século I a.c o general Pompeu:

“Navigare necesse, vivere non est necesse.”

O verso eternizou-se por meio do poeta Fernando Pessoa que trabalhou essa metáfora em seu poema ‘Navegar é preciso’ configurando a ânsia humana da criação. Viver tão somente sem que essa vida seja dirigida a pessoas, lugares, arte, é mesmo insignificante.

O fato é que viajar, ainda que às voltas do próprio quarto como diria outro poeta, tem essa conotação de abertura. Fato incomparável português é a busca de novas paragens, de novos horizontes, de novas culturas. Eis o que buscamos no turismo ou mesmo no simples fato de sair de um porto segura à busca de outros em que melhores e dignas condições de vida possam surgir. Sem parar, há um número contingente de migrantes e imigrantes que estão circulando nesse sentido. Uns fogem das agruras da terra inóspita e hostil; outros, de uma cultura que lhes nega simples prazeres. Outros ainda para buscar o diferente, o inusitado.

As trocas em viagem são coloridas, são novos pratos culinários, especiarias, leituras. São o conhecimento de povos, de detalhes da natureza, são inscrições de cultura. É possível que façamos tudo isso sem que saiamos de nossas vidas de costume. Um livro, um filme, uma serie sobre continentes apontam-nos uma riqueza de saberes e de sabores.

Mas que de fato e fisicamente falando sair para o mundo tem uma alegria e mesmo um temor que mexe com todo nosso corpo, nossa alma, nossas mais recônditas crenças. Chegar a algum lugar estranho nos coloca frente a esse desconhecido com quem precisamos conversar, precisamos conhecer, entender que cultura é a dessa gente, o que comem, o que apreciam? Voltar, ou decidir ficar, vai mudar a sua vida. Sim, ‘navegar é preciso’. Eis o sentido maior do termo ‘emoção’: sair, mover-se. Navegar.

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Foto do escritor: RoseliRoseli

Sempre que o termo ‘clínica’ se coloca, votamos o olhar à área médica de consultórios, divãs, spa, odontológico, enfim, a um espaço de cuidados para a saúde. Individuais ou em grupos, seres convivem com a clínica. Há um famoso hospital, Hospital das Clínicas, que reúne em um único lugar várias especialidades. Assim, há também as clínicas que trabalham as questões psicológicas e suas interligações com áreas como a saúde, a educação e a cultura.

Como seria uma clínica da cultura? Que sintomas essa cultura poderia apresentar? A cultura poderia estar adoecida, perturbada psiquicamente? Em tempos de grande tensão, como o vivido nos anos 2020-2021 sob efeito do coronavírus COVID 19, transformam o cotidiano cultural?

Nesse sentido, basta que olhemos ao redor. As grandes guerras não apenas modificam espaços culturais com a destruição, mas criam novas propostas de abertura como vacinas, tratamentos que se aprimoram. Em tempos pandêmicos, em que as pessoas não visitam parques públicos, exposições, espetáculos, também aumentam o stress geral para além de um único caso de depressão, por exemplo.

É possível um estudo dos sintomas dessa cultura em dado momento e em várias épocas vividas em conjunto com intensas tragédias, mas também com altas doses de entusiasmo e de felicidade.

Freud introduz a escuta na clínica e também surpreende em propor análises da cultura com casos clínicos bem conhecidos como o Homem dos ratos. Suas leituras de obras culturais como o Moisés, de Michelângelo, são brilhantes. São propostas de análises culturais que trabalham o uso da linguagem (a semiótica) e sintomas psíquicos (a psicanálise). Enfim, uma leitura de produções intelectuais, sociais, culturais... e psíquicas.

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Foto do escritor: RoseliRoseli

As relações entre cinema e psicanálise remontam ao nascimento de ambos marcadamente no século XX com apontamentos já ao final do século XIX. Esse fato traz a força de que alguns elementos são muito comuns à arte cinematográfica e elementos da psicanálise como chistes, atos falhos e principalmente sonhos.

Considerando o contemporâneo, perguntamos: o que acontece durante o espetáculo cinematográfico? Estamos em uma sala escura em que à frente uma tela nos invade convidando a uma identificação. Uma espécie de catarse ali se realiza. Somos vários ao mesmo tempo, estamos em muitos lugares, lidamos com inúmeros sentimentos. Rimos, ficamos deslumbrados, podemos até chorar.

Com muita semelhança, sonhamos. Estamos também em um processo de identificação, uma catarse também se realiza. Somos sobressaltados em torpor, somos invadidos de imensa alegria. Algo no sonho nos transporta para um simbólico mundo que, como melhor seria, é posto a desvendar em uma sessão analítica.

Um ponto interessante é ver filmes em que as temáticas psicanalíticas estão próximas de nossos olhos. Casos de psicose, casos de múltiplas personalidades, as perversidades, os complexos edipianos. Há várias obras e cursos que exploram essa frutífera relação como é o caso dos livros e vídeos do psicanalista Christian Dunker que elaborou uma coleção temática ‘Cinema e Psicanálise’. Ou como o livro desta colunista apontado na imagem deste post. Boas leituras.


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