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Blogue da Roseli

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Carlos Drummond de Andrade preparava-se para ser pai e esse triste acontecimento ocorreu em 22 de março. Triste? Ser pai é motivo de júbilo. Deve ter sido. Basta imaginar Dona Dolores, sua esposa, em terríveis contrações a caminho do parto. O poeta escreveu sobre isso? Drummond muito falou das agruras dos seres, da efemeridade da vida. Foi um apaixonado pela filha, Julieta. Tanto que a morte dela provocou-lhe um infarto doze dias depois e ele a ela se juntou.

Mas e Flávio, o filho? O nascido antes de Julieta?

É que as palavras não conseguem desenhar a dor pungente da perda de um filho. Anos antes do nascimento da filha cúmplice, Carlos perdera para sempre aquele filho. Não, ele não o esquecera.

“E o filho morto?”, continua pensando. “Carlos Flávio, apenas um nome e meia hora de vida. Antes de Julieta, e tanta esperança!”

Sempre Julieta. E a perda da esperança.

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Toda vez que estamos em março e uma tempestade se aproxima pensamos em Tom Jobim. Essas são águas antigas, de 1972, e em 1974 Tom e Elis imortalizaram essa canção. Nem é mais fato que o mês de março seja chuvoso, mas pela metade ele já vai se despedindo do verão, é o que diz a letra.

No correr de tudo que a forte correnteza formada pela chuva leva vão também todas as narrativas, todas as dores, tudo que fere. É o momento de renovação. Desse calor criativo tudo desbanca para a calmaria. O verão é muita criação, é demais, abunda. Há que desaguar levando ladeira abaixo tudo que sobrou, os restos. O lixo impróprio. É voltar a cabeça ao ecológico, limpeza. Preparar o urso à hibernação. Preparar o ser para o descanso que virá. Descanso. Lá na frente, bem lá na frente, haverá outra primavera. Até lá, é preciso limpar a casa. Armazenar os frutos. Ficar bem quietinho a esperar tudo de novo.

“É pau...”. Que letra!

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São muitos os aforismos criados pelo psicanalista Jacques Lacan. O que é um aforismo? Trata-se de verdade máxima indiscutível como alguns axiomas que formam um raciocínio lógico como “Todo homem é mortal. Sou homem; logo, sou mortal”. Nesse sentido, o aforismo lacaniano permite essa lógica já que toda mulher, se assim definida, será inexistente.

Usar um aforismo dessa natureza soa difícil a este século 21 em que as mulheres se declaram empoderadas, em que muitos direitos têm sido a elas delegados. Soaria ainda como antifeminista, talvez até como contrário à existência da mulher.

Se há o Dia Internacional da Mulher, suposto imaginar que ela exista. Homenageá-la com uma festiva data comemorativa e com muitos eventos feministas, então, nesse caso, fica mais difícil para entender o aforismo. De que fala Lacan? São aforismos, não são axiomas, primeiro ponto. Ele aponta que mesmo com todos os avanços científicos de sua época, a mulher ainda é a mãe, o primeiro Outro do sujeito. Mais, no inconsciente, não há diferença sexual; assim, a mulher é também o Outro de um sujeito mulher ou de um sujeito homem.

Não é que não exista o lugar da mulher, é que esse lugar está sempre vazio.

Dá o que pensar.

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