top of page
Keyboard and Mouse

Blogue da Roseli

Buscar
  • Foto do escritor: Roseli
    Roseli
  • 13 de dez. de 2021
  • 1 min de leitura

ree

Narrar, sabemos, é contar uma história. Um filme como Dor e Glória, de Almodóvar, já comentado pelo Cultura em Foco, implica entre tantos outros em parecer mostrar uma biografia do diretor espanhol. Melhor seria dizer com Roland Barthes um biografema do diretor. Nesse caso em especial a narrativa pode ser considerada como autoficção. Não se trata exatamente da vida, mas de nuances e traços de uma personalidade.

Também nesse sentido, as narrativas de vida não são exatamente biografias. São variados pontos de vista que levam a histórias vividas que perpassam um lugar que geograficamente falando repercute uma visibilidade cultural. Podem ser álbuns de fotografias que revelam uma identidade familiar, mas principalmente cultural. De como estão vestidas as pessoas, quais detalhes aparecem nessas fotos, que lugares representam.

Se uma narrativa revela elementos que dão visibilidade a pessoas, que contam o seu modo de vida, que mostram a cultura, ela é uma narrativa de vida. Uma obra, por exemplo, que relatasse os quilombos brasileiros estaria nessa classificação porque revelaria como pessoas vivem nessa comunidade. Isso vai além de um único sujeito e sua história de vida. Trata-se de um aspecto comunitário das narrativas cujo foco é, no mínimo, a inclusão social.

O grupo de pesquisa (UNIP-CNPQ) Encontros Interculturais no EAD: Narrativas de vida dos diferentes brasis vai nesse sentido. Confira os trabalhos que o GP mostra no canal do YouTube: https://www.youtube.com/channel/UChIU05JaI9WX_Ibvx0iFxvw

 
 
  • Foto do escritor: Roseli
    Roseli
  • 6 de dez. de 2021
  • 2 min de leitura

ree

O filme Identidade está disponível pela Netflix, é de 2021, em cooperação Reino Unido e EUA, com roteiro e direção de Rebeca Hall. A base do roteiro é o romance Passing, de Nella Larsin, apenas traduzido para o português em 2020, o original é de 1929. Em ambos, filme e romance, basicamente, observamos duas mulheres negras, amigas de adolescência, que se reencontram anos depois. Um choque pode ser percebido. Embora as duas sejam negras, apresentam tez clara o que fez com que uma delas, Clare (o nome é bastante sintomático), vivesse como branca, com marido branco e como ela mesmo diz, uma filha branca. Já Irene vive em lugar ocupado por negros, no caso Harlem, casada com um médico negro e com filhos negros. A ambiguidade, porém, da negritude perpassa ambas, já que Irene também passeia algumas vezes pelo lado branco da cidade fingindo-se branca. Ainda assim, julga a amiga. Em momentos, também, com a empregada, Zu, Irene age de forma que quase beira à agressividade. Ainda assim, julga a amiga. Interessante uma analogia casual. O nome Irene em grego se anuncia como paz. Ainda, esse nome costuma ter como apelido justamente Zu. Exata a relação; afinal, Irene é Zu ao fim e ao cabo. Essa constatação faz pensar no longo caminho que se percorre em relação à negritude e ao que chamamos no Brasil de ‘racismo estrutural’.

Interessante notar o original de Larsin, com o título Passing, que denuncia pela palavra essa ‘passagem’ que indica o que é chamado de ‘colorismo’ já abordado pelo Cultura em Foco em dois momentos: o da análise da obra Marrom e Amarelo, de Paulo Scott, e sobre o Dia da Consciência Negra. Trata-se de, em um mundo de negritude, alguns passarem desapercebidos pelo mundo da branquitude. Como em tempos, por exemplo, de cotas; muitos que se passam por brancos apresentam-se como negros. O termo ‘passing’, no filme, é ouvido muitas vezes como espanto, algo assim: ela ‘passa’? Ou seja, Clare passa por branca. Irene também.

O filme apresenta uma fotografia lindíssima (Edu Grau) em preto e branco com nuances de luzes marcando sempre uma certa clareza que recai sobre Clare e um lusco-fusco sobre Irene. A tensão entre essas duas mulheres reverbera por todos os demais componentes, os maridos de ambas principalmente. Esse contraditório deixa escapar um algo a mais entre Clare e Irene o que leva a pensar em um envolvimento além da amizade. À empregada, Zu, no entanto, apenas o cortar legumes. Eis o que melhor combina com o título do filme em português, Identidade, a assimilação no sentido freudiano do outro.

 
 
bottom of page