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Foto do escritorRoseli

A árvore mais sozinha do mundo


Lançada em 2024, pela editora Todavia, A árvore mais sozinha do mundo, de Mariana Salomão Carrara, uma autora nascida em São Paulo bastante jovem, premiada algumas vezes, perpassa a narrativa de uma família que vive no sul do país cuidando de uma plantação de folhas de tabaco.

O que chama atenção no romance é a variedade de narradores e com eles uma linguagem específica. A árvore frondosa e venenosa que fica ao lado da casa da família que bem poderia ser uma mancenilheira que faz brotar frutos que podem matar e que fazem com que essa árvore seja por isso mesmo solitária, embora sua sombra e galhos proporcionem alegrias aos moradores. Ela no romance é uma anciã que narra fatos da família e sente não poder ajudar, mas diz em linguagem personificada: “O que uma árvore tem para fazer o dia inteiro é espiar os humanos por cima” (2024, p 11). Não é pouca coisa.

Outro narrador é uma perua Rural Willis lançada em 1957 cuja produção foi encerrada em 1970. A da família é bem antiga e está lastimável em todos os sentidos, ela sente saudades de tempos em que a família a usava para a diversão. Sabe que agora ela apenas transporta as sacas de folhas de fumo para a venda. O que chama a atenção é sua linguagem do campo daquela região do sul. Há um engolir dos plurais, uma voz arrastada em erres e em verbos que comem letras, assim ‘decidiro’ ela diria, em vez de ‘decidiram’ (2024, p85).

Oposta a essa há a linguagem do velho espelho que tudo vê na sala de jantar. É uma peça antiga e lusitana, a tudo assiste. Aos caprichos da menina Alice muito bela, aos desconfortos de Maria, mais menina e um tanto feia. Às desventuras do pai cansado e da mãe saudosa de outros tempos. Nota-se uma linguagem portuguesa com letras e acentos que não estão em acordo com a do Brasil.

E a crítica ao trabalho insano e ao veneno expelido pelas folhas de fumo está na capa protetora daquela família. Uma delas é a mais nova, sem furos. A preferida das crianças. O risco, no entanto, é iminente: “Mesmo comigo não tendo furo às vezes a torpilha...balança e entorta e escorre um pouco de remédio pelo pescoço delas... (2024, p 18-19).

Como se vê as personificações desses objetos aparecem como alertas. E nada eles podem fazer. Ou melhor, podem, eles observam, viram personagens e fazem denúncias pela obra.

Acompanhe a live pelo Youtube do Instituto Legus.https://www.youtube.com/c/INSTITUTOLEGUS/videos

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