Abril vai se esvaindo deixando vontade na boca de comer chocolates. Não há como não pensar no heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, com seu poema:
“Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.”
“Eu penso”, diz o poeta. E pensar faz reflexões não apenas sobre a simplicidades das coisas cotidianas, como a Páscoa, como chocolates, mas sobre tantas outras coisas do mês de abril. Voltar o olhar ao Dia do Índio, uma celebração irônica do deixar acontecer sem de fato olhar, ver o que acontece à volta de nós.
É sintomático que chocolates sejam o ápice do consumo em um mês de contrastes. Aprilis, germinar da cultura. Nome também dado ao nascer de Afrodite, a espuma que veio do mar. Desse mar de onde vieram os conquistadores para, longe do germinar, exterminar a cultura dos donos da terra.
Melhor não pensar e tal qual a menina seguir com os chocolates.
Se Pessoa soubesse ;
como esta o fim de abril, talvez diria onde se encontra os índios ?..nem mata temos.
Abril ?...
Foi não, tudo ficou fechado.
Chocolate teve, amargo!!...
Ou melhor não pensar, abril já esta acabando se Pessoa soubesse.