Essa obra de Buzzati foi publicada originalmente em 1940. No Brasil, em 2024, encontra-se na 8ª. edição publicada pela coleção clássicos de ouro, Editora Nova Fronteira. O autor italiano era jornalista e recebeu influências de escritores existencialistas como Sartre. Na literatura como também no cinema a arte italiana dos anos 40 pode ser entendida como neorrealista, posicionando-se contra o regime político e que propõe uma literatura comprometida com os interesses sociais. É por essa atitude original, de defesa dos oprimidos e de denúncia da exploração das massas que o movimento se coloca como um neo, um novo realismo.
De certa forma, em O deserto dos tártaros, percebe-se uma busca de melhores posições, no caso, no exército por meio da ascensão de patentes e de uma vida com algum privilégio. O personagem central, Drogo, pensa assim ao entrar na academia militar. Para perpetuar um objetivo de glórias como oficial e livrar-se de dias odiosos, caminha para o forte Bastiani. Julgava ele que sua passagem lhe daria dinheiro, belas mulheres. Bem, o engodo vai aos poucos se revelando e como bem disse no prefácio o cineasta Ugo Giorgetti não se trata de uma vida militar, mas de vida das pessoas em geral que seguem expectativas que se frustram, os sonhos de dias melhores. Ironia à parte é que ao buscar dias melhores deixamos de viver cada um dos dias nessa busca. É disso que a obra trata: da espera enfadonha de uma vida prestimosa. E da perda dela em nome da espera. Assim, Drogo passará mais de trinta anos nesse processo. Adoecerá e perderá tudo: a companhia da mãe, o amor de Maria, não ter sido pai. Na página 144, é visível o desencanto que ele percebe: “Aos poucos a fé se enfraquecia”.
Veja a Live no canal do Youtube do Instituto Legus. https://www.youtube.com/c/INSTITUTOLEGUS/videos.
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