Psicanálise e literatura mantêm relações muito estreitas. A matéria básica de ambas é o elemento linguagem. Há uma fala e uma interpretação que as permeia. Há a cura, pela psicanálise, de um real sintomático que não se suporta mais pelas vias imaginárias. Isso se dá pelo simbólico. Usar a linguagem para criar. Usar a linguagem poética para encantar.
No livro A menina de Lacan. Um conto Rosa, já no título há uma aglutinação que revela um pouco da obra A menina de lá, de Guimarães Rosa, analisada. Assim, a menina de lá transforma-se em a menina de Lacan. O conto é rosa e de Rosa. Assim trabalha a linguagem.
No caso desse livro, o conto é analisado de acordo com a questão da psicose que se descortina na personagem Nhinhinha. Muitas leituras dão a essa personagem uma interpretação metafísica, mítica. Claro, possível. No entanto, ao relacionar a literatura à psicanálise, a personagem do conto poderia ser a representação de um psicótico porque ela não estaria mais como um ser desejante. Teria parado de desejar? Seria prisioneira de um gozo mortal, da pulsão de morte?
A personagem é uma criança saudável, mas indiferente a tudo. Do nada passa a desejar coisas que acontecem. Milagres? Um último desejo expressa que ela gostaria de ser enterrada em caixão rosa de verdes funebrilhos. A profecia se cumpre. Um silêncio paira por toda a personagem porque ela para de falar e logo depois morre. Ou, um outro mundo se descortina, um mundo já preconizado sem laços sociais como quase sempre a pessoas psicóticas.
Vale a leitura do conto de Guimarães Rosa para estar próximo à linguagem metafórica muito apropriada àquela dos sonhos, da psicanálise. Freud e Lacan foram psicanalistas que fizeram das leituras literárias uma fonte de saber.
Confira o vídeo no Youtube do Instituto Legus
Comments