Disponível pela Netflix, Relatos do mundo (2020), de Paul Greengrass, é baseado no romance homônimo (2016) de Paulette Jiles, e é interpretado por Tom Hanks- brilhante- e pela menina Helena Zengel – não menos brilhante.
Ainda que o pensamento nos leve a um filme dos antigos west, e é nesse sentido um grande filme, Relatos mostra uma espécie de nascimento da nação americana com todos os preconceitos que perduram até o contemporâneo: racismo, extinção dos índios, entre outros.
Há, no entanto, no filme um instigante passeio pela narrativa. Afinal, Tom Hanks interpreta um ledor de jornais. Ele vai de cidade em cidade relatando as últimas notícias, algumas já bem antigas. Não só apenas ele lê as notícias, ele as interpreta e deixa ao espectador o vislumbre de sua posição sobre os fatos. Revela a cada leitura um ser ético em relação aos acontecimentos.
Na defesa de suas ideias, há a defesa que ele assume da menina abandonada à sorte pior que ele encontra pelo caminho. A menina sobreviveu à matança de sua família pelos índios. Foi criada por eles. Em seguida, a segunda orfandade já que os índios são dizimados pelos colonizadores.
Há entre ele e a menina um primeiro momento de entrave. Falam línguas diversas. Ela, a que aprendeu com os Kiowas. Ele, claro, a língua dos colonizadores. Cada qual passa a conhecer o outro pelas intrigantes aventuras por que passam. Apreendem as linguagens distintas. Respeitam-se na diferença. Diferenças, eis o mote do filme.
Não assisti. O texto deixa claro o quanto é interessante e instigante o filme. Uma excelente dica para domingo de Páscoa.
O papel de leitor lembrou-me do livro História da leitura, de Manguel. Em um dos episódios relatados, o autor fala das leituras em voz alta de fábricas por empregado para empregados.
Ainda não assisti ao filme "Relatos do Mundo", mas seu texto me instigou, Roseli. Diferenças como mote do filme, tendo línguas/linguagens permeando essas diferenças... Fiquei muito interessada. Obrigada!😀