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  • Foto do escritorRoseli

Identidade


O filme Identidade está disponível pela Netflix, é de 2021, em cooperação Reino Unido e EUA, com roteiro e direção de Rebeca Hall. A base do roteiro é o romance Passing, de Nella Larsin, apenas traduzido para o português em 2020, o original é de 1929. Em ambos, filme e romance, basicamente, observamos duas mulheres negras, amigas de adolescência, que se reencontram anos depois. Um choque pode ser percebido. Embora as duas sejam negras, apresentam tez clara o que fez com que uma delas, Clare (o nome é bastante sintomático), vivesse como branca, com marido branco e como ela mesmo diz, uma filha branca. Já Irene vive em lugar ocupado por negros, no caso Harlem, casada com um médico negro e com filhos negros. A ambiguidade, porém, da negritude perpassa ambas, já que Irene também passeia algumas vezes pelo lado branco da cidade fingindo-se branca. Ainda assim, julga a amiga. Em momentos, também, com a empregada, Zu, Irene age de forma que quase beira à agressividade. Ainda assim, julga a amiga. Interessante uma analogia casual. O nome Irene em grego se anuncia como paz. Ainda, esse nome costuma ter como apelido justamente Zu. Exata a relação; afinal, Irene é Zu ao fim e ao cabo. Essa constatação faz pensar no longo caminho que se percorre em relação à negritude e ao que chamamos no Brasil de ‘racismo estrutural’.

Interessante notar o original de Larsin, com o título Passing, que denuncia pela palavra essa ‘passagem’ que indica o que é chamado de ‘colorismo’ já abordado pelo Cultura em Foco em dois momentos: o da análise da obra Marrom e Amarelo, de Paulo Scott, e sobre o Dia da Consciência Negra. Trata-se de, em um mundo de negritude, alguns passarem desapercebidos pelo mundo da branquitude. Como em tempos, por exemplo, de cotas; muitos que se passam por brancos apresentam-se como negros. O termo ‘passing’, no filme, é ouvido muitas vezes como espanto, algo assim: ela ‘passa’? Ou seja, Clare passa por branca. Irene também.

O filme apresenta uma fotografia lindíssima (Edu Grau) em preto e branco com nuances de luzes marcando sempre uma certa clareza que recai sobre Clare e um lusco-fusco sobre Irene. A tensão entre essas duas mulheres reverbera por todos os demais componentes, os maridos de ambas principalmente. Esse contraditório deixa escapar um algo a mais entre Clare e Irene o que leva a pensar em um envolvimento além da amizade. À empregada, Zu, no entanto, apenas o cortar legumes. Eis o que melhor combina com o título do filme em português, Identidade, a assimilação no sentido freudiano do outro.

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