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Blogue da Roseli

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Publicada pela Editora Baobá, em 2022, a obra de Adriano Messias foi ilustrada por Mariano Martin, e comentada em vídeo pelo também escritor Frederico Moreira conforme podemos verificar no link https://www.youtube.com/watch?v=IEqSSGkE9Sg, disponível pelo YouTube.

Indicado para crianças do Ensino Fundamental, a obra é apontada como literatura infantil. Sempre é possível discutir se a literatura infantil se dirige apenas a crianças. No caso desse sapo apaixonado, a narrativa pode ir além da seleção etária já que a partir do título o leitor se depara com elementos poéticos. O choro da chaleira choradeira é uma onomatopeia nas próprias letras, nos fonemas, que indicam um ‘chiiii’ que combinará ao som da ‘fala’ do sapo, o coachar. A personificação do sapo e de outros elementos do texto incorporam essa poética, mesmo que saibamos que as histórias infantis costumam usar esse artifício. O inanimado toma vida. As aproximações metafóricas não param apenas nesse ponto, um tanto comum à literatura infantil. Vão além, aproximando a geografia do lugar àquelas que formam cenários à narrativa quixotesca, explicada ao final da obra. Ali também há informações sobre o escritor, o ilustrador e tantas coisas mais.

O ser anfíbio do sapo também requer didática aos leitores assim como soam lindas as palavras aliteradas: ‘piou um pardal empoleirado’. O que dizer dos nomes encantadores da sapeia, da giganta, da princesa-sapa, a anfíbia, a jabota? Todos interessantes e diferentes. Cabem ao ensino o professor que se aproveitará da narrativa para as aulas de língua portuguesa assim como a professores de literatura que podem se aproveitar dessa nomeação como é o caso da filha, Ismênia. Ismênia da poesia Ismália, de Alphonsus de Guimarães; desse amor quixotesco da obra de Miguel de Cervantes. Uma obra infantil cujas ilustrações belíssimas acompanham uma história de amor, uma história inteligente que trata o leitor com respeito.

Confira a Live no YouTube do Instituto Legus.

 

 
 
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O escritor Adriano Messias proferiu uma palestra em 26 de maio de 2022, no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, na qual abordou o tema do Antropoceno. Nela  exemplificou a história do planeta Terra a partir da imagem de um relógio de 24 horas: o ser humano - Homo sapiens sapiens - começou a viver às 23h58min. Dois minutos antes de completar um dia no relógio hipotético, o homem transformou o ambiente mais do que qualquer outra criatura viva nos últimos milhões de anos. "A era que instauramos não é outra coisa senão uma imposição de um limite a partir do qual nos tornamos oficialmente a espécie que mais alterou o planeta em sua história", ele disse. Nesse sentido, o escritor Richard Powers constrói em A trama das árvoresum romance sobre a ligação profunda entre pessoas e árvores e as consequências implacáveis de ignorarmos essa relação. Essa obra lançada em 2018, publicada no Brasil em 2025 pela editora Todavia, coloca em perspectiva aquilo que estudiosos estão apontando: estamos no Antropoceno, termo advindo do grego, anthropos, que significa humano, e kainos, que significa novo, e que foi popularizado em 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de química em 1995, para designar uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra. Richard Powers escreve essa trama das árvores (The Overstory, no original) trazendo alguns personagens que direta ou indiretamente são arrancados de sua ignorância por alguma relação orgânica com uma árvore. De fato, essas pessoas são convocadas por alguma árvore para que haja um esforço coletivo para salvar o que resta de florestas virgens no continente americano, no caso.

Trata-se de uma obra densa, carregada de termos da botânica, entre outros, com uma linguagem que não faz concessões à leitura em suas 645 páginas. Mas o resultado é um novo olhar para a importância do ambiente em nossas vidas. A obra ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção em 2019. São palavras do escritor que confluem à palestra de Adriano Messias: “Se as árvores da Terra pudessem falar, o que diriam? Escute. Há algo que você precisa ouvir.” 

Confira a Live no YouTube do Instituto Legus

 
 
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A publicação de Páthos e Ágape é da editora Telecazu Edições de 2025. A autora Sílvia Simone Anspach tem um vasto currículo acadêmico e várias obras publicadas no Brasil e no exterior. Nessa recente obra, Sílvia trabalha três momentos poéticos: Páthos, Ágape e um Epílogo. Dessa maneira, há um divisor de águas entre as partes que se pode constatar pelos nomes dados a elas. Páthos, que remete ao sentido grego, contém textos ligados a sofrimentos, experiências, emoções. Nesse sentido, inclusive literalmente, o leitor percebe estar diante de duas escrituras, quase diante de duas escritoras diversas já que em Ágape o que se percebe são textos em que a questão da philia no sentido grego transborda em amores irmanados e incondicionais. Muito distinto da Parte 1 em que o jorrar das palavras beira à incoerência, à falta de coesão do texto. O arremate é dado pelo capítulo final em que há tecidos de um fazer e desfazer-se na ânsia de compreender a tecitura das palavras. Penélope – no epílogo – final, em metalinguagem decifra códigos e percebe a incompletude das redes e das vivências. Essas partes textuais portam linguagens diversas e divergentes. Em Páthos, estamos diante de uma escritura que pode chegar ao nonsense, talvez próxima daquilo que o psicanalista Lacan evidenciou como o registro do real, o impossível de ser dito, escrito, bordado. Significa muitas vezes perder o fio da linha condutora da obra. Por conta disso, em Ágape, o bordado segue a linguagem do simbólico, das regras da sintaxe e da semântica. De certa forma, um alívio ao leitor que poderá ficar tentado ao desespero da primeira parte. De toda forma, nas duas partes, a obra em prosa é entremeada de citações em forma poética, poesias de outros e da própria autora. Há que conferir esse livro que por conta das partes poderá ser lido a partir de qualquer uma, da escolha do leitor. Que o “limbo” possa levar a um “tempo” que não é o de “lamento”, mas àquele sol “dourado e sinestésico” de uma vida, como “as mãos de Tata”, aquela que teceu sabores e aromas.

Confira a Live no YouTube do Instituto Legus.

 
 
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