A obra Onde pastam os Minotauros é do escritor Joca Reiners Terron. O livro foi publicado em 2023 pela editora Todavia e mantém uma lógica a romances anteriores do autor, ou seja, a crítica a eventos recentes que em suas obras podem parecer produtos do imaginário, mas que estão bem próximos de nós no contemporâneo. Permeando a obra, a figura mitológica de Minotauro está presente. Como isso se dá? O espaço geográfico do romance está em Mato Grosso em um abatedouro que fornece carne para países do Oriente enquanto as pessoas da região ficam gradeadas à espera de apenas ossos para que possam matar a fome. Mesmo os trabalhadores do local precisam se arriscar à prisão por esconderem em suas partes íntimas pedaços de carne que poderiam matar a fome de um dia de seus filhos.
Esses trabalhadores famintos e brasileiros vão aos poucos sendo substituídos por aqueles chamados de ‘turcos’. São muçulmanos que praticam a fé enquanto degolam animais para o consumo de exportação. Há um movimento circular daqueles animais que segue exatamente o mesmo movimento desses humanos. Por mais que girem acabam na ponta da morte por uma faca.
Assim entra pela narrativa o mito do Minotauro, uma criatura que está presente na mitologia grega e que é conhecido por ter o corpo humano, mas a cabeça e uma cauda de touro. Ele foi aprisionado em um labirinto construído por Ícaro e Dédalo a mando do rei de Creta, chamado Minos. Minotauro era descrito como um ser monstruoso que devorava pessoas vivas.
Os animais vivem em um labirinto por toda a pequena vida até serem eles mesmos devorados por humanos famintos. De certa forma, como diz o autor, ‘O matador se torna aquilo que mata’ (...) ‘O touro pensa que o matadouro é o labirinto e o homem é o minotauro. Assim, ao touro, só lhe cabe o papel de homem’. Eis a questão primordial, aqueles animais são mortos pelos homens; no entanto, aquele trabalho escraviza e mata aqueles homens.
Para além dessa questão de vida e morte no labirinto que é o matadouro, há a vida mal vivida daquelas pessoas fora do local. São mortes advindas da Covid19, são mortes causadas por falência do corpo sem comida. São famélicos a tentar atravessar a grade que dá acesso aos animais. Alguns conseguem e tiram pedaços, partes dos animais em doloroso corte de seus corpos. Pobres animais. Pobres humanos.
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