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Blogue da Roseli

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Em 9 de dezembro de 1992, a Vila Maria Zélia no intermeio dos bairros Brás e Belenzinho, foi finalmente considerada patrimônio histórico e foi tombada. Há certa ironia nesse desfecho porque quem visita a Vila encontra muita coisa de fato tombada, carcomida, destruída pelo tempo. Em que pese o tombamento, a Vila tem muitos prédios que pertencem ao INSS que não efetua uma reforma mantendo a história e nem permite que outros o façam.

Mas a Vila já teve dias de glória. Ela começou a ser construída em 1911 para abrigar residências e áreas de uso coletivo dos operários da fábrica Nacional de Tecidos de Juta. Era então uma vila operária e uma fábrica. Poucas das famílias dessa época ainda estão vivas e mesmo seus familiares e descendentes perderam esse espaço de moradia. Outros que ficaram, a despeito do tombamento, reformaram as casas e tiraram delas suas características históricas de uma época.

Sempre há esperanças de que a Vila possa ser reestruturada e vista como um importante ponto turístico e de patrimônio histórico. Em 1996 foi criada a Associação Cultural por moradores interessados na preservação da Vila. Para incentivar o movimento, o local conta com Grupo de Teatro, com o Armazém da Memória e um Centro de Memória Vila Maria Zélia.

É preciso preservar a memória. Esse local serviu muitas vezes a filmagem de obras com Mazzaropi. Por enquanto, ainda é possível rever muitos espaços da Vila nesses filmes. Por quanto tempo ninguém sabe. É preciso preservar a memória.

Acompanhe a Live no YouTube do instituto Legus.

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A obra Onde pastam os Minotauros é do escritor Joca Reiners Terron. O livro foi publicado em 2023 pela editora Todavia e mantém uma lógica a romances anteriores do autor, ou seja, a crítica a eventos recentes que em suas obras podem parecer produtos do imaginário, mas que estão bem próximos de nós no contemporâneo. Permeando a obra, a figura mitológica de Minotauro está presente. Como isso se dá? O espaço geográfico do romance está em Mato Grosso em um abatedouro que fornece carne para países do Oriente enquanto as pessoas da região ficam gradeadas à espera de apenas ossos para que possam matar a fome. Mesmo os trabalhadores do local precisam se arriscar à prisão por esconderem em suas partes íntimas pedaços de carne que poderiam matar a fome de um dia de seus filhos.

Esses trabalhadores famintos e brasileiros vão aos poucos sendo substituídos por aqueles chamados de ‘turcos’. São muçulmanos que praticam a fé enquanto degolam animais para o consumo de exportação. Há um movimento circular daqueles animais que segue exatamente o mesmo movimento desses humanos. Por mais que girem acabam na ponta da morte por uma faca.

Assim entra pela narrativa o mito do Minotauro, uma criatura que está presente na mitologia grega e que é conhecido por ter o corpo humano, mas a cabeça e uma cauda de touro. Ele foi aprisionado em um labirinto construído por Ícaro e Dédalo a mando do rei de Creta, chamado Minos. Minotauro era descrito como um ser monstruoso que devorava pessoas vivas.

Os animais vivem em um labirinto por toda a pequena vida até serem eles mesmos devorados por humanos famintos. De certa forma, como diz o autor, ‘O matador se torna aquilo que mata’ (...) ‘O touro pensa que o matadouro é o labirinto e o homem é o minotauro. Assim, ao touro, só lhe cabe o papel de homem’. Eis a questão primordial, aqueles animais são mortos pelos homens; no entanto, aquele trabalho escraviza e mata aqueles homens.

Para além dessa questão de vida e morte no labirinto que é o matadouro, há a vida mal vivida daquelas pessoas fora do local. São mortes advindas da Covid19, são mortes causadas por falência do corpo sem comida. São famélicos a tentar atravessar a grade que dá acesso aos animais. Alguns conseguem e tiram pedaços, partes dos animais em doloroso corte de seus corpos. Pobres animais. Pobres humanos.

Acompanhe a Live no YouTube do instituto Legus.

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O filme dirigido por Sam Esmail estreou em 7 de dezembro de 2023 no catálogo da Netflix. A película tem por base a obra homônima de Rumaan Alam, Leave the World Behind.  Atores bastante reconhecidos interpretam um casal que sai para um descanso em uma casa belíssima em Long Island (Julia Roberts e Ethan Hawke).

Algumas pistas de que algo não vai bem já aparecem no início do filme quando Amanda vai fazer algumas compras para abastecer a casa. No estacionamento, ela encontra um cara com ares de poucas amizades e que está lotando sua caminhonete com itens daqueles que selecionamos para o fim do mundo, para catástrofes. Esse cara mostra-se pelo ator Kevin Bacon em curta, mas precisa atuação.

Desse episódio para frente, as coisas ficam estranhas. O sinal de internet começa a falhar o que causa indisposição aos filhos do casal, principalmente à menina que fica aflita pela possibilidade de perder o episódio final de Friends.

A confirmação de que algo está errado acontece com a chegada de um pai com sua filha que dizem ser os proprietários da casa. Uma certa arrogância acomete a filha que entra em confronto com Amanda e seu marido. Questões que geram desconfiança apontam o como um pai e filha pretos podem ser donos daquela casa? Com racismo explícito, o mal-estar está instaurado principalmente em relação à Amanda.

O ponto central, no entanto, é de fato a quebra de sinais de comunicação. Os ‘estrangeiros’ àquela família explicam o porquê: Nova Iorque está sob efeito de choque o que explica o porquê o pai e a filha fugirem para a casa que possuem em Long Island.

Supondo que o mundo ficou para trás, a tragédia a chegar é iminente. Todo o controle cai por terra. Um petroleiro invade a praia desgovernado. Nada parece funcionar. A TV não consegue manter estabilidade.

Esse descontrole é também o que se vê entre aquelas pessoas porque parecem lutar contra um desconhecido. Seja essa família em relação ao pai e filha, seja da filha em relação à Amanda. Ninguém parece suportar o diferente. A exclusão é evidente.

O tempo todo, a filha do casal na casa alugada, alheia a tudo, não cessa de questionar a ausência de sinal porque fica impedida de ver o último episódio de Friends. Segundo ela, só assim ela tem voz já que parece ser alienada nessa família.

Mais do que mostrar catástrofes de fim de mundo, a direção opta por mostrar o desencontro humano. O quanto já estamos vivendo em meio à maior catástrofe da humanidade: a exclusão em nós do outro.

Acompanhe a Live no YouTube do instituto Legus.

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